quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O CURANDEIRO AFRICANO

Capítulo XIV
O sol brilhava a pique. O calor tórrido e abafado de início de tarde sufocava-nos em cima da caixa de carga da camioneta, que agora lentamente começava a sair do imenso mar verde desta floresta que nos oprimia e fazia sentir pequeninos e insignificantes.
Pela nossa frente estendia-se uma região aberta tipo savana, salpicada de graciosos embondeiros e outras árvores de grande porte, dispersas pelo alto capinzal matizado de tons dourados e pastel, a ondular graciosamente ao sabor de uma brisa leve e sufocante
O nosso ancião que o Farsola ajudara a descer da viatura durante a última paragem, regressava agora apressado transportando nas mãos umas pequenas raízes e algo de aspecto estranho que me pareceu serem pequenos cogumelos.
Avançou para mim dizendo com voz ofegante.
- Toma patrão, bébi nos água. Ser bom prós caganera.
O Farsola ao reparar na minha indecisão, retirou aquela miscelânea das mãos do ancião introduzindo-as de imediato na água morna do cantil, agitou bem o conteúdo que me entregou dizendo.
- Bebe Mike. Pior que o que estás agora, não deves ficar.
Com repugnância bebi uns tragos daquele chá morno e asqueroso.
De imediato notei que os vómitos pareciam querer dar-me tréguas e instigado pelo ancião fui bebendo mais e mais até esvaziar o cantil e, a diarreia e os vómitos cessarem na totalidade.
Com o sol de fim de tarde a pintar de vários tons vermelhos e dourados a linha do horizonte, chegamos a Quiende ultima base das nossas tropas antes de São Salvador. Aproveitando a curta paragem, o Farsola foi de corrida encher de novo os cantis e ao chegar junto a mim aconselhado pelo ancião preparou nova infusão daquele produto milagroso que estendeu na minha direcção ordenando.
- Toma. Bebe mais este cantil de chá, que ao chegarmos a São Salvador tens que estar em forma para bebermos umas bujecas fresquinhas.
Agora já sem relutância bebi mais uns tragos daquela misericordiosa mistela que tanto bem me estava a fazer.
Anoitecera muito rapidamente como acontece nestas regiões tropicais e a noite apresentava-se escura como breu, fervilhando de inúmeras estrelas que brilhavam docemente na noite sem luar e livre de poluição.
Este circo de dezenas e dezenas de viaturas progredia agora muito mais rápido e, sem as constantes paragens que tanto nos haviam atrasado. A estrada encontrava-se desimpedida de minas, graças ao trabalho de picagem efectuado por soldados de outras companhias, desviadas para aqui afim de montarem a segurança do percurso e abreviarem o máximo possível o perigoso trajecto nocturno.
MANUEL ALDEIAS

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