segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

MEMÓRIAS de OUTRORA X

(Continuação)
Quando estes visitantes chegaram ao terreiro da Sanzala devem ter colocado mais lenha na fogueira, já que esta até aqui quase apagada aumenta bastante de brilho.
Sentia os ossos enregelados, pedia à Virgem de Fátima que tudo isto tivesse um fim rápido, que se fizesse rapidamente de dia, mas infelizmente e para aumentar a minha angústia a negra e temida noite estava a ser longa de mais.
Passada uma eternidade eis que o dia parece querer nascer, uma claridade muito ténue começa a cobrir muito lentamente o terreiro da Sanzala, que se encontrava desprovido de qualquer arvoredo.
Repentinamente ouvem-se dois tiros e numa grande berraria surgem de todos os lados da Sanzala, Flechas que também disparam alguns títulos para o ar.
A surpresa fora total, agora já clareava bastante e do local onde me encontrava via homens e mulheres, algumas com crianças ao colo.
Os Flechas passavam a pente fino todas as cubatas e continuavam a reunir junto do local da fogueira todos os seus moradores.
Com a situação sob controlo o meu guarda costas faz-me sinal para que prossigamos e, nos reunamos ao resto do grupo que se encontrava no terreiro da Sanzala.
Sentia os pés tremerem dentro das botas todo o terreno. Parecia-me que o medo e o terror não permitiam que desse sequer um simples passo, estava grudado ao chão, no entanto ganhei forças, levantei-me e com enorme dificuldade coloquei o rádio ás costas e pus-me a caminho.
(Continua)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

MEMÓRIAS de OUTRÓRA IX

( Continuação)
O golpe de mão seria lançado assim que começasse a romper o dia. Como ainda tínhamos práticamente a noite toda pela frente, os Flechas separaram-se e ocuparam posições que melhor lhes permitissem uma aproximação rápida e eficaz ao objetivo. Para o caso de perderm o contato o Flechas vinham munidos de 3 ou 4 bocados de paus muito finos para não fazerem muito barulho e que partiam, confundindo-se com os ruídos da floresta e, que lhes permitiam localizar o camarada da frente.
Eu felizmente não faria parte do grupo de assalto, ficaria numa posição mais protegida, acompanhado pelo meu fiel guarda-costas. Era um local privilegiado de onde seguiria toda a ação como se estivesse a assistir a um filme de guerra no cinema da minha terra.
A noite estava fria, muito escura e ameaçava chover, a lua continuava a dormir escondida por detrás das grossas nuvens e só uma vez por outra se deixava ver mas por poucos segundos.
O medo e o frio estavam a tomar conta de mim. Do local onde me encontrava conseguia ouvir vozes vindas da direção da sanzala, o meu guarda-costas devia dormir. Repentinamente o barulho da vegetação denuncia passos que se aproximam cautelosos na minha direçao. O medo que sinto transforma-se em pânico, no entanto continuo deitado à beira do trilho e instintivamente aponto a G3, então sinto a mão do meu guarda-costas que me aperta o braço, pelo que permaneci quieto e aterrorizado. Eram quatro homens que passaram sem dar por nós quase a roçar-nos, retive a respiração e mais uma vez gelei de pavor.
(Continua)

sábado, 5 de fevereiro de 2011

MEMÓRIAS de OUTRÓRA VIII

(Continuação)
Ainda o tiroteio não tinha terminado e já nós descíamos pela vertente oposta do morro e, nos internava-mos no interior da densa floresta virgem. Aqui a deslocação estava a ser muito difícil principalmente para o homem da frente, a abrir caminho com a catana e que era periodicamente substituído.Pelo meio da tarde depois de uma cansativa deslocação através da cerrada floresta virgem e pelo método de passa palavra, tomei conhecimento que iríamos descansar naquele local até perto do pôr do sol, altura em que faríamos durante a noite a aproximação à Sanzala que ficava já muito próxima.
Esta operação estava a tornar-se muito perigosa e todos os cuidados eram poucos, não fosse o Soba, que provavelmente jogava com um pau de dois bicos, prevendo a nossa ida, ter-nos denunciado ao inimigo e num ápice passarmos de caçadores a caçados.
Assim que começou a escurecer retomámos a cansativa marcha, mas passado pouco tempo a escuridão total tomou conta de nós e da floresta virgem, de novo tivemos que nos socorrer do cinturão do camarada da frente para podermos progredir. 
Com um esforço sobre humano, finalmente chegamos a uma pequena elevação depois da qual e atravessando um terreno cultivado de talvez uns 150 metros, a que os nativos chamavam lavra, surgia uma clareira onde estava implantada a pequena Sanzala, habitada segundo as informações por cerca de 30 pessoas. A cubata do Soba, a maior de todas elas, encontrava-se no centro do terreiro, perfeitamente reconhecida por uma fogueira que se encontrava acesa.
(Continua)