segunda-feira, 31 de maio de 2010

O EXTREMO SUL DE ANGOLA

Extracto de "A minha odisseia por terras Angolanas" onde caracterizo, a região fronteiriça do sul de Angola.
Ao fim de três longos dias e, de uma extensa viagem de perto de 1600km a dormirmos como já estávamos habituados no chão duro e, debaixo das viaturas, chegamos em 24 de março de 1973, a um local no meio do nada designado por Nehone, onde ficou colocada depois de montadas as tendas de campanha, a sede da C. Caç. 3386 “ Os Carolas Unidos”
Entretanto a C.C.S. ficara instalada em Pereira Dèça, uma pequena cidade capital do Distrito do Cunene e a Ç. Caç. 3387  “OS Escorpiões”alguns km mais adiante num local junto da fronteira sul de Angola denominado por Namacunde.
No dia seguinte à nossa chegada a Nehone, eu e o meu grupo de combate continuaríamos esta longa marcha por mais 200 km de picadas, até á ponte sobre o rio Cuvelai um afluente do majestoso rio Cunene, onde montámos uma nova base.
Aqui estávamos bastante longe da guerra e dos tempos conturbados e terríveis passados em Nambuangongo e na Força de Intervenção.
O imponente Rio Cunene delimitava a nossa zona de acção a norte, a qual se estendia até á fronteira sul com a actual Namíbia. Aqui tivemos oportunidade de observar de muito perto a imensa e variada fauna da savana e dos espaços abertos. Ao contrario do norte de Angola a que estávamos habituados, muito acidentado e com imensas e enormes florestas virgens cerradas, ou capinzal alto, aqui o terreno era bastante plano, de características arenosas e com poucas arvores, uma zona de savana, bastante seca e árida, já muito influenciada pelo vizinho deserto do Calaári.
Devido ao terreno ser demasiado plano e a estação das chuvas se caracterizar por chuvadas muito intensas, formavam-se durante esta estação autênticos lagos de grande extensão que condicionavam grandemente e por vezes tornavam impraticável a deslocação das viaturas.
Todavia logo que cessavam as chuvas, as viaturas podiam circular com relativa facilidade quer através dos caminhos existentes, quer através das longas chanas caracterizadas pela sua planura e ausência de arvoredo, apenas cobertas por um débil capim.
A estação seca era caracterizada por tão grandes amplitudes térmicas, que nos víamos obrigados a agasalhar com cobertores quando viajávamos durante a noite. Assistia-se também durante esta estação a uma total ausência de chuvas, levando á secagem da vegetação rasteira, das linhas de água e mesmo dos rios, excepção para o enorme Rio Cunene que se mantinha com uma fraca corrente, sendo no entanto possível a sua passagem a vau.
A escassez de água não proporcionava o desenvolvimento da agricultura, a não ser nalguns pontos junto dos cursos de agua que sulcavam a região, nomeadamente os rios Cunene e Cuvelai, e até a criação de gado, actividade predominante e que de uma maneira geral preenchia a vida destes povos se proporcionava com grandes dificuldades, forçando a uma constante transumancia em busca de alimentação e de água necessária á subsistência do gado.
A fronteira sul de Angola com o Sudoeste Africano (actual Namíbia) encontrava-se delimitada por uma extensa cerca de arame que se prolongava por uma recta de dezenas e dezenas de km.
Em princípios de 1972, um ano antes da nossa chegada, a etnia Cuanhama, a prevalecente nesta região, dera inicio a alguma agitação e apresentado certas reivindicações que foram atendidas pelas autoridades portuguesas, ao que se seguira uma fase de acalmia.
Estes acontecimentos tiveram lugar na mesma altura que os registados do outro lado da fronteira pela parte da etnia Ovambo, influenciados pela SWAPO – o movimento independentista do Sudoeste Africano – este movimento detinha uma célula nos arredores de Lusaca, capital da Zâmbia, muito próximo de uma célula do MPLA e foram referenciados na região agitadores afectos a este partido, o que confirmava a participação deste movimento nas citadas agitações. No seguimento destes acontecimentos as autoridades portuguesas decidiram ocupar militarmente a região e daí a nossa permanência neste esquecido e remoto sertão do fim do mundo.
Instalados em tendas de campanha sem electricidade, água, ou qualquer outro meio de conforto, durante o dia destilávamos com temperaturas elevadíssimas e á noite suportávamos um frio intenso, mas éramos jovens e estávamos afastados da maldita e penosa guerra que tantos sofrimento, atormentação e dor nos havia provocado.
O tempo era passado em patrulhamentos de acção psicológica e, alguma assistência sanitária, em que percorríamos centenas de km pela vasta savana. Esta era uma região muito pouca habitada, em que os seus habitantes de etnia Cuanhama viviam dispersos em pequenos quimbos familiares, constituídos por algumas palhotas cercadas por uma alta paliçada de paus a pique, que defendiam os seus habitantes e o gado dos animais selvagens como os leões.
Por aqui vivemos na paz dos deuses durante cerca de 4 meses, até ao final da comissão do B. Caç 3848, ao qual assisto, já em Luanda bastante emocionado e com os olhos marejados de lágrimas, ao embarque para a Metrópole em 4 de setembro 1973,destes meus amigos e camaradas, com os quais tinha passado cerca de um ano pelas mais variadas aventuras.
Esta minha passajem pelo Sertão do Sul de Angola está retratada em “ Calcorreando a Savana” que pode ser visionada clicando AQUI.  





2 comentários:

franciete disse...

LUZ DIVINA--NATAL

Há dois mil anos! Passa colossal:
Noite iluminada em saudade!
Luz, pureza, amor, e humildade,
Apontando no lar, noite de Natal…

Pinheiros desperta, luz paternal;
Ao nascimento da alta divindade:
Nas palhas inspira a humanidade
A encarnar nos homens a moral…
Finda a prece, vem a aurora radiante:
Radiosa estrela no horizonte;
Pura, bela, ridente, despontou.

A aureolar no olhar divino de Deus!
Que sempre esclarecendo todos os Céus
No caminho, da vida que nos traçou…

beijinhos de luz e paz

Anónimo disse...

Excelente poder narrativo e que revela bastante conhecimento de causa