quarta-feira, 21 de julho de 2010

Capítulo IV-Continua a minha viajem pelo setão Angolano

Partimos de Ambrizete com era hábito nestas deslocações ainda de madrugada, antes do sol nascer, para a última etapa com destino a São Salvador do Congo.
Esta seria a etapa mais difícil desta longa viagem, porque eram dezenas e dezenas de km por picadas de terra batida em péssimo estado, com muitos buracos ainda mais agravados por estarmos em plena época das chuvas. E viajarmos na caixa de carga da camioneta também não era nada agradável.
A composição da coluna sofrera alterações, a segurança fora reforçada, e nós também tomamos algumas medidas, limpamos  muito bem com um pano as nossas meninas, tendo especial atenção á zona da culatra, puxei várias vezes o manipulo, injectando e expelindo algumas balas, confirmando que tudo estava em condições e pronto para qualquer eventualidade Agora já não viajávamos só nós os dois, em Ambrizete entraram novos passageiros que nos faziam companhia.Sentado no chão e tal como nós aos trambolhões provocados pelos imensos buracos, seguia um ancião vestido andrajosamente, muito magro, seco, com uma pequena barbicha e um braço ao peito. Aparentava talvez cinquenta anos, não sei bem precisar, porque estas pessoas ostentavam uma idade superior aquela que tinham na realidade e a sua esperança de vida era muito baixa, penso que na época  não ultrapassaria os quarenta anos.
Também tínhamos por companhia uma jovem mãe, vestida ao modo tradicional das mulheres da tribo kicongo, com um pano garrido repleto de ramagens muito coloridas atado abaixo do peito, vinha acompanhada de dois filhos, uma menina de cinco ou seis anos com um pano atado á cinta e um rapaz um pouco mais velho, vestido simplesmente com uns calções bastante coçados e também descalço como todos os outros nossos companheiros de viajem. Segundo me disseram, todos eles regressavam a casa depois de uma ida ao Hospital.
Na nossa frente seguia uma camioneta civil com uma enorme carga de grades de cerveja, á qual o Farsola lançava um olhar de felino, farejando a oportunidade de deitar a mão a algumas garrafas.
Na nossa retaguarda vinha uma viatura militar com uma carga totalmente coberta por um oleado verde, o que não era comum, por aqui todas as cargas normalmente vinham descobertas, travadas no cimo com algumas tábuas atravessadas e amarradas com grossas cordas. O Farsola não resistiu á sua curiosidade de antigo larápio, na primeira paragem dirigiu-se á camioneta, levantou o oleado, mirou e correu para mim gritando esbaforido.
- Mike! Vamos bem acompanhados. Porra! É um carregamento de sobretudos de madeira.
Respondi-lhe, incomodado com a descoberta.
- Eh. Pá! Como a puta da guerra no norte está a aquecer, estão-se a precaver com caixões, Mau augúrio.
Viajávamos na cauda da coluna, atrás de nós só a camioneta dos caixões, e em último lugar para fechar este carrossel dois hunimogues com os soldados encarregados da protecção á retaguarda.
Com o escaldante sol Africano a pique e a água do cantil quase a ferver chegamos a Tamboco, uma grande Sanzala que se estendia de um e outro lado da poeirenta picada, os garotos aos bandos corriam ao lado dos hunimogues da tropa e os soldados atiravam-lhes algumas latas de conserva que rolavam pelo chão e provocavam uma renhida luta pela sua posse.
O Farsola aproveitou a pequena paragem e foi em corrida ao quartel encher os cantis de água, enquanto eu ficava de guarda aos nossos pertences.
Entretanto a coluna pôs-se em movimento e o meu camarada sem aparecer. Começava a ficar preocupado com a situação, apesar de saber que o Farsola era bastante desenrascado e portanto haveria de arranjar maneira de se desembaraçar da situação. Quando eu já desesperava de todo, á saída da povoação lá estava ele com os braços no ar a fazer sinal ao nosso motorista para parar.
Subiu para a camioneta cansado, e com voz ofegante disse.
- ÉH! Pá! No bar do Zé soldado, só já havia cerveja quente, de modo que tive de dar uma corrida até á cantina do civil que fica ao fundo da sanzala – e ao mesmo tempo que sacava duas cervejas dos grandes bolsos do camuflado, exclamava satisfeito.
- Toma lá! Ainda consegui estas duas bujecas fresquinhas.
Era um grande e prestimoso camarada este Farsola, e no relacionamento com os nossos amigos passageiros mostrava o seu lado mais humano, durante a viajem brincava muito com as crianças e oferecia-lhes atum com bolachas de água e sal, que era o nosso substituto do pão para acompanhar-mos as rações de combate. Muita fome e privações passávamos nós desditosos e ignorados soldados, calcorreando as selvas cerradas e hostis da imensa Angola, combatendo e sofrendo nesta terrivel e impiedosa guerra.

1 comentário:

caçador disse...

eu que estive nesse lugar de 65 a 67 e nada aconteceu fomos muitas e muitas vezes a sao salvador do congo iamos e vinhamos no mesmo dia claro que passavamos em m´pozo e mais umas 2 compahias mas nao lembro os nome claro que nós estavamos em m´pala nós tanto iamos para nóqui como para lufico e muitos outros lugares como os meus queridos maçaricos se deixaram ficar tao incompetentes como pode mas nao foi muita culpa dos soldados nem sergentos nem furrieis culpa sim já dos capitaes e so senhores generais que entregaram tudo que era de portugal como pode em tao pouco tempo as forças armadas ficarem tao fracas aí o in nao perdoa estivemos nessas zonas 19 meses nao sofremos uma emboscada nós andavamos sempre procurando o in e muitos nós prendemos e nao tinham moleza a gente pegavamos muitos e muitos talves por isso eles nos respeitavam será que era isso como pode eu acho e já li nao sei se a verdade que os comadentes até unimogs vendiam aos colonos eu nao acredito esses comandentes que fizeram isso deveriam ser nao tenho palavra para escrever eu sai de angola com a guerra ganha os turras estavam destruidos e fui