segunda-feira, 15 de novembro de 2010

CAPÍTULO XXIV

De volta à picada
Ainda era de noite, mas o céu já começava a ganhar a tonalidade de azul petróleo característica da manhã bastante quente que se avizinhava, quando a coluna se pôs em movimento.Esta coluna militar era composta por 6 viaturas sendo a da frente um possante camião de marca berliet, á qual tinham sido retiradas a protecção da cabina, as portas laterais e os taipais, em seu lugar tinham sido colocados vários sacos de areia com o intuito de amortecer o impacto provocado pela possível explosão de alguma mina anti-carro que se encontra-se escondida no piso térreo da picada e, onde seguiam apenas o motorista e o seu guarda costas sentado num saco de areia. Era o chamado rebenta-minas.
Seguiam-se 4 veículos todo – o – terreno de marca hunimog, conhecido entre os soldados por burros do mato devido à sua versatilidade, baixa velocidade e grande capacidade de deslocação em qualquer tipo de terreno, mesmo os mais íngremes.
Nestes veículos os soldados viajavam sentados costas com costas, num banco corrido, construído em ripas de madeira, com as armas apoiadas sobre os braços, com os canos virados para a picada, prontos a saltar em caso de ataque inimigo.
Afim de se protegerem da enorme nuvem de pó levantada pelas viaturas, os soldados usavam á volta do nariz e da bouca uns grandes lenços de pano e também uns enormes óculos tipo mergulhador para lhes protegerem os olhos.
A meio desta escolta militar fortemente armada, num camião carregado com caixas de cerveja, sacos de batatas e de arroz, seguíamos empoleirados alem de mim e do meu camarada Farsola, um outro soldado, alto forte e de grandes mãos calejadas que com a sua voz grossa e forte sotaque Alentejano nos disse chamar-se Baleizão. Tinha combatido o MPLA no leste de Angola na região de Gago Coutinho, até o seu batalhão terminar a comissão e regressar á Metrópole. Ele tal como nós viera em rendição individual e como tal ainda tinha pela frente alguns meses de guerra, o quartel-general em Luanda decidira que acabaria o seu tempo de comissão junto da fronteira norte, agora a combater contra a FNLA.
O Baleizão confirmou-nos tal como o Vitinha já nos tinha contado, que efectivamente o MPLA tinha derrubado um Heli-canhão e abatido o seu piloto, na mesma região em que uma determinada companhia de comandos, que não sabia precisar qual, tinha sofrido uma violenta emboscada e, afirmava que esta tivera lugar entre o Luso e Gago Coutinho, em plena estrada alcatroada, causando-lhes 5 mortos e um elevado numero de feridos graves.
Segundo contou era um local onde não seria de prever um ataque de tamanha envergadura, apesar da desvantagem tanto em numero, como por se encontrarem completamente desabrigados em plena estrada, os comandos reagiram com grande valentia e determinação, acabando por colocar em fuga o grupo inimigo muito antes da chegada do grupo de socorro.
Manuel Aldeias









15 comentários:

Unknown disse...

Passei para ler mais uma das suas memórias e deixar um abraço.

Janaina Cruz disse...

Soldados... A impressão que tenho é que são homens que nada temem, e mesmo que tenham um coração pulsante, arriscarão a própria pele, para salvar a sua pátria.

Carla Ceres disse...

Leio suas narrativas como se assistisse a um filme de suspense. Para uma brasileira que nunca esteve na África, seus textos revelam um mundo desconhecido.
Parabéns!

Vitor Chuva disse...

Olá, Manuel!

Obrigado pela visita, e por se ter feito meu seguidor, gesto que retribuo com muito agrado.
Eu estive na Guiné, na Armada, certamente com vida mais fácil, e foi com prazer que li a sua narrativa, aqui muito bem descrita, ficando à espera de mais.
Um abraço.
Vitor

Anónimo disse...

Manuel ,


Prossigo lendo sua história , ....



Obrigada pelo carinho da visita e palavras.
Bjo e uma Noite de Paz.

franciete disse...

Meu querido amigo venho retribuir seu carinho e deixar em seu coração o meu eterno beijinho.
Obrigada por ser esse ser maravilhoso que você é.
Meu querido eu prometo que volto para ler as historias quando tiver mais tempo.

Maria Rodrigues disse...

Amigo sempre que leio as suas histórias é como se estivesse a ver um filme, pois a forma de narrar é excelente.
Bom domingo e uma belissima semana.
Beijinhos
Maria

Laços e Rendas de Nós disse...

Como prometi, cá estou a agradecer a visita ao 'rubraacácia'.

Ao ler as suas memórias, recuei no tempo e fiquei-me a ouvir os helicópteros que sobrevoavam a minha casa, tão baixo, que muitas vezes vi, lá dentro, homens deitados em macas.

Foi a vossa/nossa guerra, mas também a de um país que ia assistindo, impávido, à morte e ao abandono do povo que era seu.

Beijo

alma disse...

Manuel,

fascinam-me sempre estas histórias de guerra, contadas na primeira pessoa.

Excelente viagem por um mundo para nós desconhecido, mas que retrata uma história na História.

bj

Anónimo disse...

Manuel,



Que sua semana seja de Paz e
Sorrisos.

Janaina Cruz disse...

Salme Maneul, que tenham sido boas as tuas lembranças nesse final de semana, e que tu traga as para cá, para dividi-las conosco...
Um grande abraço.

Rosane Marega disse...

Manuel, obrigada pelo carinho e seja sempre muito bem vindo ao meu cantinho romântico.
Beijosssssss e uma linda semana

franciete disse...

AMIGO COMO LHE PROMETI VOLTEI PARA LER E ADOREI, ESTOU DESERTA PARA SABER O QUE É QUE ACONTECEU AO FARSOLA, MAS É SEMPRE COM GRANDE INTERESSE E PROSPECTIVA QUE AQUI VENHO LER AS SUAS ANDANÇAS POR TERRAS DE ULTRAMAR.
NO FUNDO EU TAMBÉM TENHO MUITAS LIGAÇÕES COM FAMÍLIA E AMIGOS QUE POR LÁ ANDARAM .
UM BEIJINHO DE LUZ E MUITA PAZ

Unknown disse...

Amigo e Companheiro. Leio com bastante agrado as suas escritas. Comecei por curiosidade, uma vez que pertenci á c. caç. 3413 que vocês renderam. Portanto falamos de zonas e sítios conhecidos por ambos. Também eu comecei a enviar mails para o blog do Mendes, da c. caç. 3413, tenho é pena de não ter a sua arte de secrita.
Aquele abraço e até sempre

Anónimo disse...

A companhia de comandos de que falam, foi 2042ª, No dia 15 novembro de 1973 sofreram uma emboscada por parte do MPLA na estrada de asfalto que ia do Luso a Gago Coutinho, perto da povoação do Cuvuei, tendo sofrido 5 mortos e 15 feridos graves