quinta-feira, 12 de agosto de 2010

E A SAGA CONTINUA

Capítulo VIII
Assim que chegamos a Quiximba dirigi-me rapidamente ao posto de rádio, como era habitual entre os operadores de transmissões quando nos deslocávamos em viagem e parávamos nestas pequenas bases.

A solidariedade entre os soldados com a especialidade de transmissões era muito grande, em vez de pernoitarmos enrolados na capa camuflada e debaixo das viaturas como faziam os restantes soldados, nós por norma dormíamos na cama do camarada que estivesse de serviço ao rádio ou na daquele que estivesse fora em operações.
O Bolachinha que acabava de sair do posto de rádio e depois de me cumprimentar perguntou-me com a voz emocionada.
- Então conta lá Mike! Assististe á chacina?
- Eh, pá! Foi por pouco. Mas como não me afastei do meu posto quase nada sei do que se passou. Conta-me lá, houve muitas baixas?
- Constasse que terá havido pelo menos seis mortos, dois desaparecidos e vários feridos graves – respondeu-me o Bolachinha muito triste e com a voz embargada pela emoção.
Era aqui em Quiximba por ser o local mais próximo desta carnificina que tinha sido montado o posto de comando das operações de socorro e portanto os meus colegas de transmissões estavam bastante bem informados de todos os pormenores, aliás tinham sido eles aqui que receberam o primeiro SOS.
O Bolachinha continuou o seu triste relato, dizendo-me também que o nosso colega Valinhas tinha sido evacuado para o Hospital Militar de Luanda gravemente ferido, tendo o seu rádio ficado inutilizado devido ao fogo inimigo e, que o primeiro pedido de SOS fora enviado por um colega de transmissões que seguia a meio da coluna.
Coitado do meu amigo Valinhas tão animado e optimista que estava naquela noite em Ambrizete. Como estaria ele agora?
Se sobrevivesse provavelmente seria mais um inválido, inutilizado por esta filha da puta de guerra e nunca mais voltaria a trabalhar no lameiro dos pais, na sua querida aldeia da Beira Baixa.
O nosso colega Cabeça Gorda que entretanto chegara junto a nós, confidenciou-nos bastante emocionado com o seu característico sotaque Alentejano.
- Todos os doze ocupantes das duas últimas viaturas foram mortos ou ficaram feridos e mesmo os primeiros que recuaram em seu socorro caíram num campo de minas.
O Cabeça Gorda ainda me disse que o inimigo muito matreiro enterrara na berma da picada um campo de ninas anti-pessoal, comandadas á distancia e que deflagrou quando os primeiros soldados vindos da frente se aproximavam avançando pela berma da estreita picada, retardando assim a chegada de socorro e dando tempo a que o grupo de assalto subisse ás duas viaturas e furtassem vários sacos com pertences pessoais, cinturões com carregadores de balas, algumas G3, a bolsa de enfermagem do Marialva e tudo indicava que aprisionara os dois soldados dados como desaparecidos.

1 comentário:

Maria Clara disse...

Obrigada pelo comentário. Tudo de bom.
clara