Com o final da tarde o céu até aqui muito azul, começa-se a tingir de escuro com grossas nuvens negras. Os raios riscam o céu e uma forte trovoada começa a despejar torrentes de água que obrigam os nossos passageiros a deixar o lamaçal e virem fazer -nos companhia.
O tempo vai passando lento e nós encharcados que nem pintos, até que a certa altura o Farsola grita-me com inquietação.
- Eh, Pá! Se passarmos aqui a noite, os cabrões caçam-nos á mão.
- Triste vida a nossa e puta de guerra, estou farto desta merda toda – desabafei atemorizado.
- Ainda agora partimos de Luanda e já tenho saudades daquela bela vida que lá levávamos – lamenta-se o Farsola torcendo o quico encharcado de água.
- Eu tenho saudades é da Metrópole e, dos meus familiares e amigos que já não vejo há quase dois anos – murmurei eu com nostalgia.
Entretanto com o dia a findar e a chuva a retomar de intensidade, este autentico carrossel de saltimbancos põe-se em movimento. Pela frente ainda temos varias dezenas de km de picada perigosa com o inimigo a espreitar e a forte trovoada a nos atormentar e impor respeito. A negra noite é cortada por inúmeros relâmpagos que desenham figuras funestas e diabólicas no céu escuro que nem breu, seguidos de trovões estridentes a recordarem-nos os rebentamentos que nos feriram os ouvidos e tiraram a vida a alguns dos nossos camaradas.
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Relato extraordinario
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