O João Abreu ex-graduado da c.cav.8450, que na altura desta terrível emboscada se encontrava na Canga a poucos km do Meposo, teve a amabilidade de me contactar a partir da sua maravilhosa Ilha da Madeira, dando conta de que o B. Caç 4912 era maioritariamente constituído por soldados Madeirenses e não por Açorianos como eu por lapso referi.
Ainda me informou que a 1ª companhia operacional deste Batalhão se encontrava em Cabeço da Velha e a 2ª e a 3ª nos locais por mim referidos.
Ao João Abreu os meus agradecimentos pelo seu contributo para o esclarecimento dos factos ocorridos durante esse negro período da historia recente de Portugal, que foi a guerra colonial.
Muita gente está a seguir esta minha estória e alguns têm-me telefonado e enviado e-mails, afirmando que não introduzem comentários porque não tem jeito para a escrita. Volto a referir que não se coíbam de inserir os comentários, e que podem escrever do modo genuíno como pensam, aliás é também assim de modo informal que eu estou a escrever esta minha estória.
E agora depois de feita a rectificação segue mais uma parte desta minha odisseia, agora com a chegada a Quiximba e uma breve descrição das precárias instalações das nossas tropas dispersas pelo imenso sertão Angolano.
Capítulo VII- Ao cabo de algumas dezenas de km e ao descrevermos uma sinuosa curva, o Farsola grita-me.
- Anima-te, pá! Estamos a chegar a Quiximba.
- Ainda bem. Já não era sem tempo – respondo eu acrescentando – Provavelmente pernoitamos lá, ao invés de prosseguirmos até São Salvador como previsto.
- Filha da puta de viagem, era preferível não termos saído do Luvo – Lamenta-se o meu companheiro de aventura.
Efectivamente começávamos a vislumbrar ao longe umas luzinhas muito ténues em circulo. Estávamos a aproximarmo-nos lentamente de Quiximba, um aglomerado de barracas de madeira cobertas com chapas de zinco que servia de aquartelamento ás nossas tropas.
O nosso exército dispunha de dezenas e dezenas de aquartelamentos deste tipo, por norma bastante distanciadas entre sí devido á enorme extensão do território e, disseminados por toda esta imensa vastidão da selva Angolana considerada zona operacional. Era uma ocupação militar designada por quadrícula, em que as enumeras companhias operacionais ficavam responsáveis por uma vasta região em forma de quadrilátero, contíguas umas ás outras e ocupando militarmente deste modo todo este vastíssimo território. A maioria das bases eram do género deste acampamento onde agora acabávamos de chegar, sendo a iluminação eléctrica fornecida por um gerador eléctrico e como não se dispunha de electrodomésticos, este só funcionava durante a noite com o principal intuito de garantir a segurança, iluminando com projectores as zonas circundantes que eram cercadas por arame farpado, ainda dentro deste recinto existia em todo o seu perímetro um conjunto de abrigos cavados no chão, cobertos com grossa camada de terra e ligados entre si por uma funda vala. A água normalmente era abastecida a partir de algum rio próximo, transportada diariamente num depósito atrelado a um hunimog. Os poucos frigoríficos funcionavam com o recurso a petróleo e os alimentos eram cozinhados com a muita lenha existente nas redondezas. Estes acampamentos também dispunham de um pequeno forno a lenha para o fabrico de pão. Os abastecimentos eram realizados a partir de Luanda de quinze em quinze dias por grandes colunas de camiões, como esta onde nós agora vínhamos inseridos e que eram designados por MVL (Movimento de Viaturas Logísticas).
Já os poucos alimentos frescos de que dispúnhamos eram transportados semanalmente. No nosso caso desde São Salvador, em pequenas avionetas civis fretadas ou nas versáteis D O 27 militares, as quais também transportavam o tão ambicionado correio.
Até São Salvador vindos de Luanda os frescos eram transportados duas vezes por semana no avião de carga Nordatlas, conhecido entre nós por Barriga de Ginguba.
Foi em locais deste genero que viveram e passaram parte da sua juventude cerca de 800.000 jovens Portugueses.
MANUEL ALDEIAS
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