Invadido pela nostalgia
Naquela tarde abrasadora de calor escaldante e saturada de humidade, com o pouco dinheiro que o meu amigo Farssola me havia emprestado e que apenas dava para uma cerveja, encontrava-me sentado á mesa do Café Cressa que àquela hora estava praticamente vazio. Os meus pensamentos divagavam para longe até à saudosa e distante Metrópole e, recordava os meus familiares e amigos que não via há praticamente dois anos.
Para cumprir o serviço militar obrigatório, vira-me obrigado a interromper abruptamente o meu trabalho no Arsenal do Alfeite, onde já trabalhava á cerca de 3 anos.
Pela minha mente também passavam em turbilhão todos os meus colegas da Escola Emídio Navarro em Almada, onde eu frequentava o Curso Industrial em regime nocturno como trabalhador estudante
Geralmente depois da saída do trabalho juntamente com um grupo de colegas, dirigíamo-nos ao conhecido Café Central de Almada e ao seu vasto e acolhedor salão de bilhares, onde disputávamos renhidas partidas de snooker. Ocupando deste modo o tempo até ao início das aulas que começavam invariavelmente às 19 horas e, se prolongavam até ás 22 horas e 45 minutos.
A maioria destes meus colegas e amigos também agora se encontravam combatendo, numa das três frentes desta suja e cruel guerra, alguns aqui em Angola, outros em Moçambique e, outros ainda na Guiné.
Encontrava-me completamente absorvido por estes pensamentos nostálgicos que me toldavam a mente, quando sinto uma mão no ombro. Era o Eusébio, o mulato empregado de mesa do café que me pergunta, com o seu sotaque característico.
- Então patrão. Vai mais uma cuca fresquinha?
- Não Eusébio, por hoje já tenho a minha conta. Sabes? Ultimamente não tenho andado bom do estômago.
Paguei a cerveja com os últimos Angolares cedidos pelo Farsola e, invadido pela tristeza e pelo ressentimento com a maldita guerra, saí do café caminhando lentamente pela rua principal.
Já o sol se escondia no horizonte quando regressei ao quartel, vislumbrando à distancia o intenso mar verde da floresta, que se ia cobrindo lentamente com o manto escuro do céu, preparando-se para adormecer até que de novo o sol a raiasse com o seu brilho intenso.
Entrei para o refeitório afim de assistir ao detestado rancho, mas nessa noite pouco ou quase nada comi do intragável arroz com salsichas.
Manuel Aldeias
12 comentários:
Adorei o estilo do seu blog!
Voltarei sempre...
Grande abraço querido.
Olá , Manuel!
Também gostei muito
de o ler ...
Bjo.
Obrigado Priscilla pelo coment]ario.
Quanto mais leio seus lindos e maravilhosos poemas, mais vontade tenho de os voltar a ler.
Bom dia , Manuel !
Obrigada por sua presença
e comentário carinhoso ...
Bjo e um Dia de Sorrisos.
Interessante a tua história!
Conheci um casal que fugiu de Angola para o Brasil em 1974. Eles nos contaram coisas horríveis da gerra.
Tempos difíceis.
Um gde abço.
Bia Franco
A nostalgia costura fragmentos de memória, que faz doer o presente, e não há como voltar ao ponto de partida...
Sinto-me honrada, pode levar meu poema pelos teus ares...
Tempos bem difíceis esses...
Gostei do jeito como narrou o ocorrido,escreves muitíssimo bem,terei prazer em visitá-lo sempre para ler seus incríveis textos.
Obrigado pelas palavras lá no meu espaço.
Gostei muito da sua escrita.
passar aqui sempre.
Até!
Quem uma vez vivi em Angola, tem boas lembranças para sempre!
È pá Manuel o teu blogo está muito fixe.
Também sou um combatente. Uma vez combatente sempre combatente.
Felicidade e paz
Aqui vái um poema de minha autoria
Catumbela
Encontrei Catumbela
Fiquei com ela a falar
Encontrei a própria vida
Teus lábios grande e lindos
Transformou o meu olhar
Oh catumbela eu perdi o coracäo
Ao ver tua pele negra
Teus lábios grande e lindos
Que conquistou meu coracäo
Um sorriso com vida
Transformou a noite em dia
Dentro do meu coracäo
Catumbela, deixa beijar
Tua fonte täo mimosa
Näo á cor mais bela
És das negras uma rosa
O teu olhar ciúmento
Catumbela és minha alma
Minha dor, meu sofrimento
Catumbela, timida röla
Amor perfeito, minha verbena
Numca te posso esquecer
Camtobela minha Camtobela
Pois eu esto löuco por ti
Numca te posso esquecer.
Autor: Manuel Pombo
é pena não haver mais Aldeias para decomentar, algo que tenham passado, para que todos saibam o que foi a guerra colonial. lembra-te conforme vamos deixando este mundo, tudo o que passamos também vai, deixem algo para os nossos netos. Um abraço Mário Silva O cabo padeiro C.C.3387
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