Extrato de " A minha odisseia por terras Angolanas", onde caracterizo a região fronteiriça Norte, junto da qual terminei a longa comissão de mais de 2 anos, Já depois de 25 de Abril de 1974.
Esta região fronteiriça do norte de Angola, apresentava um relevo bastante ondulado com altos capinzais, diversas espinhosas e alguns pântanos repletos dos incomodáveis mosquitos em espacial na época das chuvas. Também se encontravam principalmente nos vales e junto das linhas de água algumas florestas virgens cerradas, mas que não impossibilitavam a sua penetração.
O clima de características tropicais era muito adverso para a saúde de todos nós, e propício ao aparecimento de doenças como o paludismo e as hepatites. Registavam-se duas estações, a das chuvas de meados de Outubro a meados de Maio que se caracterizava por altas temperaturas, humidade elevada e, enormes índices de pluviosidade que dificultavam enormemente o transito de viaturas pelas picadas de terreno argiloso de cor avermelhada muito escorregadio característico desta região.
A estação seca ou do cacimbo de meados de Maio a meados de Outubro caracterizava-se pela ausência de chuvas, descida de temperatura e formação durante a noite de um tipo de nevoeiro que designávamos por cacimbo, o qual se prolongava até meio da manha com condições de visibilidade muito reduzidas, condicionando fortemente as deslocações das aeronaves com consequências muito nefastas nas evacuações aéreas de doentes e feridos.
Esta zona que antes do eclodir da guerra em 1961 tinha uma relativamente grande densidade populacional, encontrava-se agora praticamente desabitada, os aglomerados populacionais indígenas tinham sido abandonadas no seguimento desses acontecimentos, tendo os seus habitantes pertencentes ao grupo étnico kicongo, refugiado-se nas matas ou foragido para a vizinha Republica do Zaire.
Os indivíduos que se apresentavam ou eram resgatados da mata pelas N.T ( nossas tropas). foram no seguimento de directrizes governamentais e para melhor controle militar, reordenados em povoações ao longo dos principais itinerários, ou nos centros populacionais existentes, como São Salvador a capital do distrito, distante de nós cerca de 80 km, que além da guarnição militar e de alguns comerciantes e funcionários brancos, possuía uma sanzala habitada por várias centenas de africanos.
Na Mamarrosa base militar onde agora me encontrava existia uma roça de café, a única da região que tinha sobrevivido ao eclodir da guerra, era protegida pelas N.T. e empregava cerca de 100 trabalhadores Bailundos, oriundos do centro de Angola e aqui a laborar como contratados.
Esta era uma zona de influência da (FNLA) Frente Nacional de Libertação de Angola, presidida por Holden Roberto, que possuía os seus santuários logo alí na vizinha Republica do Zaire. Ao contrário da região dos Dembos, onde iniciei a minha longa comissão de mais de dois anos, aqui o IN (inimigo) não se encontrava radicado com carácter de permanência, apenas a utilizando como área de trânsito, reabastecimento e recolha de informações. Era um dos principais corredores de penetração utilizados para infiltrar grupos armados para essa zona fulcral da guerra que era a mata dos Dembos-Nambuangongo, Zala – e na rota em sentido inverso para fazer entrar na Republica do Zaire populações retiradas dessas matas do interior, ou guerrilheiros para recuperação, treino e rearmamento para posterior reentrada em Angola.
Estas colunas IN durante os seus movimentos lançavam a grande distância batedores avançados que mantinham informados o grosso da coluna. De igual modo utilizavam guardas para protegerem a retaguarda.
Aqui o IN procurava esquivar-se ao contacto com as NT, evitando deixar vestígios da sua passagem ou permanência e quando detectado reagia pelo fogo, mas sempre procurando pôr-se em fuga.
Também espiavam os nossos movimentos e actividades e esporadicamente actuavam através das suas temíveis Companhias Moveis, as quais se revelavam muito destemidas, violentas e bem organizadas, assim como aquela chefiada pelo temível Pedro Afamado.
Por terem logo do outro lado da fronteira as suas importantes bases de Sangololo e Kinkuso, tornava-se muito tentador o ataque relâmpago aos aquartelamentos de fronteira seguido de fuga para esses santuarios, como aquele ao nosso pequeno destacamento do Luvo, como descrevo em: "O meu 29 de julho" que pode ser lido clicando AQUI
Manuel Aldeias
12 comentários:
Amigo Manuel Aldeias,
Após algumas pesquisas feitas na Internet, e a propósito do meu tempo de guerra em Angola, e após aturadas pesquisas, deparo-me com um camarada que muito provavelmente tenha estado comigo na Fazenda de Mamarrosa, no Norte de Angola em 1974. Faço variadíssimas incursões no Ciberespaço à procura de pessoal daquele tempo, e parece-me ter encontrado alguém que tenha coabitado comigo no tempo que lá permaneci. Fiz parte da Bateria 523 (BTR 523) que estava sediada em Ambrizete e que se destacava para Mamarrosa, com um Obús 8,8 e 10,5 que se situavam precisamente à esquerda e à direita da messe dos oficiais. Fui mobilizado para ZO em 1974, mais precisamente em Junho ou Julho, não me recordo agora, sendo depois destacado para Nóqui. Lembro-me de aquando da minha permanência naquele destacamento, haver uma companhia (não me lembro qual) à qual ficamos agregados e que se não me engano, você fez parte dessa mesma companhia. Do pessoal que me lembro dessa companhia, os que me vêm à memória são: O Alves (creio que revelava umas fotos, tinha uma grande bigodaça) e do Rodrigues, ambos Furriéis.
Gostaria que me confirmasse esta minha pretensão, pois anseio ter contacto com o pessoal desse tempo, uma vez que me dava bem com essa malta e perdi completamente o contacto. Lembro-me de termos feito algumas incursões até ao Luvo e bastante tiro de Obús à noite sobre essa povoação, mais propriamente na fronteira onde existia uma ponte que estava armadilhada. O capitão da vossa companhia se bem me lembro, era um tipo bem atarracado, baixinho e segundo algumas especulações, parecia ser capelão?! Da BTR 523, fazíamos parte dois Furriéis. Eu operava o Obús do lado esqº da messe (8,8mm) e o meu colega Antunes, operava o do lado direito (10,5mm).
Se por acaso, se se confirmar esta minha descoberta, gostaria que fizesse eco do meu apelo e que elucidasse quanto ao que eu aqui exponho.
Um forte abraço,
João Carlos Milhazes
Aldeias, ainda bem que existe malta, que deixa escrito algo por que passamos, se não for assim, por muitas vezes que contamos, desapaece conforme vamos também desaparcendo. Ao ler o texto do João Carlos Milhazes,caso assim o entendas podes colocar um link da C.C.3387 no teu Blogue (outras memórias.http://www.prof2000.pt/users/secjeste/CCac3387/
Obrigado amigo Mário pela sugestão,
vou imediatamente proceder à introdução do link. só não o fiz hà mais tempo por mero descuido.
Obrigado, mais vale tarde que nunca, assim passa haver mais uma ligação, através dela chega-se a muitas fotos de Angola e não só.
Boa semana
Aldeias, lembro de ti. Parabéns pelo testemunho que colocaste.
Milhazes estve lá e tinhas o alferes ( nome? ) meio ruivo.
Lembro-me de voc^es e foram úteis no ataque ao LUVO.
Quando dizes furriies , o rodrigues sim o de revelar era o alferes António e eu sou o alferes Alves (bigode).
Há tempo coloquei comentários ao ataque do LUVO num blogue ? Nesse dia estava o meu pelot~ao no LUVO mais um da Canga .
Abraço
Julio Alves
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